Em decorrência de denúncias anônimas, foi descoberto um grupo de 50 pessoas sendo mantido em condições de trabalho análogas à escravidão em uma fazenda no interior do estado do Pará, na República Federativa do Brasil. As investigações preliminares realizadas pela polícia federal apontam para a existência de uma rede criminosa de trabalho escravo com atuação no Brasil e em outros dois países da América do Sul: República Bolivariana da Venezuela e República Popular da Bolívia. Identificou-se que o grupo de vítimas é composto inteiramente por imigrantes forçadas; 33 venezuelanas e 17 bolivarianas. Ademais, em ambos os casos, verifica-se a presença de mulheres, indivíduos acima dos 60 anos e crianças. A atuação dessa rede criminosa visava à exploração da mão-de-obra desvalorizada para as atividades do setor têxtil.
Por meio de declarações das vítimas às equipes policiais brasileiras, descobriu-se uma das formas de atuação da organização criminosa: aliciamento por traficantes de pessoas, os quais prometiam salários bem remunerados em cidades brasileiras. Contudo, na realidade, os salários são muito mais baixos, e tais indivíduos são explorados em oficinas de costura. Uma idosa bolivariana afirmou que: “eu trabalhava das 7h até 1h, 2h da manhã. Não tinha um dia de folga, quase nunca descansava. Não deixavam a gente sair. Ninguém saía. Estávamos trancados mesmo”. De maneira semelhante, a partir de interrogatórios de uma mulher venezuelana vítima, reconheceu-se que para além das situações de trabalho degradante, ambiente insalubre, ausência de direitos trabalhistas, longas jornadas de trabalho e baixa-remuneração, outro fator degradante é a inexistência de medidas de proteção contra o vírus Sars-CoV-2 (COVID-19).
Nesse contexto, além da situação de instabilidade política e crise socioeconômica na Bolívia e Venezuela que motivou a imigração forçada das vítimas, pode-se afirmar também a ineficácia do Estado brasileiro no gerenciamento da questão, visto que, os criminosos responsáveis pela manutenção do cativeiro – onde o grupo de 50 pessoas se encontrava – escaparam. Não obstante, duas jovens bolivarianas e uma idosa venezuelana estão apresentando os sintomas intermediários da COVID-19, porém nenhuma pessoa do grupo foi testada ou mantida em isolamento social.