Delegações dedicadas a discussões vertiginosas conseguem a aprovação de resolução com recomendações para a proteção do jornalista, mas a classe segue na mira
Mariana Naves
O último dia do Comitê, em 24 de abril, é resumido em revisões e mais revisões, em uma corrida contra o tempo, e em busca do consenso. Momentos de tensão leve marcaram a manhã, mas as farpas trocadas já foram feitas anteriormente, e apenas a reciclagem de ataques mantém o movimento. O que motiva a imprensa, empenhada na cobertura, a reunir-se para partidas de jogos de cartas ao som de Luísa Sonza.
Na primeira sessão houve troca de acusações entre Estados Unidos e Rússia, um gostinho da Guerra Fria veio com tudo. A delegada dos EUA, do time de delegações apressadas em revisar o documento, volta a condenar os ataques entre representantes, e desta vez dá nome aos galos e acusa a delegação russa de ser a autora de alguns dos documentos que atacaram seu país. Para a surpresa dos presentes, o delegado francês defende que as denúncias poderiam ser proveitosas. Podemos considerar um lado fofoqueiro da França?
As discussões seguiram e trataram sobre asilo e refúgio político, proteção cibernética e de minorias, tudo dentro dos tópicos propostos no documento. Em seguida, a oitava sessão foi ainda mais pacífica e direta, sobretudo, por conta da ausência da Federação Russa, que não pode questionar as recomendações e ficou de fora da lista de países proponentes. Excluído do grupinho, o delegado russo não pode votar as emendas da nona sessão.
Ainda durante a oitava sessão, o auge foi a imprensa, que se uniu para jogar adedonha enquanto as delegações, formada, principalmente, de mulheres, usavam a cordialidade e muito girl power para revisar os parágrafos. E em nada surpreendente continuação, a nona e última sessão, então com a presença da delegação russa, passou pelas sugestões de emendas e votação sem grandes alarmes e oposições.
Enquanto isso, nos bastidores, a atenção da imprensa ficou entre o comitê, o twitter, e o jogo de uno. E concluímos que os documentos de trabalho acusatórios deram lugar a retweets com respostas de contas fechadas, o que corrói os fofoqueiros de plantão. Mas o verdadeiro trabalho da imprensa foi combinar esforços para movimentar os ânimos tão calmos e pacíficos do último dia, e o espaço perfeito foi a coletiva de imprensa, ao final da última sessão.
Em primeiro lugar, sempre para fomentar discussões, e acima de tudo, entretenimento para os leitores, o GMZ direcionou sua pergunta para a delegação dos Estados Unidos, em busca de uma declaração mais assertiva sobre a conduta da Federação Russa e da suposição da delegada sobre a autoria dos documentos acusatórios. A resposta veio direta, e sem titubear, a Rússia foi acusada de hipocrisia, além de boicotar a discussão e ainda desrespeitar a classe jornalística.
E a chave de ouro do comitê girou de maneira inesperada, a última questão da coletiva, após problemas técnicos suspeitos na redação do GMZ, foi lançada no mínimo de maneira provocadora para a Polônia. Questionado sobre a recente instauração de regulação da mídia no país, e sobre uma possível realidade onde os jornalistas poloneses poderiam sentir-se motivados a deixar o país de origem com os incentivos na oferta de asilo e refúgio político a partir da resolução do comitê, o delegado vira a mesa e afirma que a regulamentação é para proteger a imprensa, e impedir a publicação de inverdades.
A partir da declaração, a representante do GMZ expressou sua preocupação com qualquer corroboração de censura. E claro que o delegado não poderia deixar de retorquir, e atacar valores deste jornal, como o sensacionalismo e o descompromisso com a seriedade, o que provocou a repórter em questionar se nas cláusulas propostas, o GMZ existiria nos parâmetros que operam hoje. “Seria mais sensato”, respondeu o delegado da Polônia.
E assim foi encerrado o Comitê de Direitos Humanos, com o tema “Perseguição e Violência Contra Jornalistas: Uma ameaça à Liberdade de Imprensa e Expressão”, com um delegado que participou das discussões, assinou a resolução, e definitivamente acompanhou a cobertura da imprensa, determinando o que é ou não sensato aos jornalistas. Então que seja exposto que o GMZ não é sensato, sério ou imparcial, mas que é livre. Que a liberdade exista para continuar com o trabalho engraçadinho, e principalmente, com as perguntas que aterrorizam na coletiva de imprensa. O descompromisso que tanto querem controlar permite o GMZ produzir sobre aquilo que não corresponde ao decoro, e talvez por isso, o interesse em nos calar. Afinal, quem mais poderia ser exposto e criticado, e não rir da própria desgraça senão aquele que é culpado?